O desejo por um fundo maior está se tornando mais popular, com o número dos chamados elevadores de bumbum brasileiros mais do que dobrando nos últimos cinco anos.
No entanto, um caso recente de alto perfil envolvendo um médico em Miami que foi proibido de operar após a morte de um paciente durante a cirurgia, destaca os riscos associados à realização deste procedimento. Segundo a American Society of Plastic Surgeons, o lifting de bumbum brasileiro (BBL) tem a maior taxa de mortalidade de todos os procedimentos estéticos.
O que é um lifting de bumbum brasileiro?
Algumas pessoas têm um BBL por razões estéticas, mas muitas o têm depois de perderem muito peso, de uma séria desfiguração após traumatismo pélvico ou de problemas práticos, como segurar as calças.
O procedimento envolve retirar gordura de áreas do corpo onde ela não é desejada e transplantá-la para os glúteos para ampliá-los.
Para ter sucesso, um enxerto de gordura precisa de nutrição e por isso tem que ser injetado no tecido que tem um suprimento de sangue. A gordura pode sobreviver se injetada em outra gordura, mas até 90% dela pode ser absorvida se for. A gordura tem mais chances de permanecer no lugar se for inserida no músculo – mas é aqui que reside o risco.
Injetar gordura na nádega pode facilmente levar a problemas sérios se for feita de forma incorreta. Estes incluem uma embolia de gordura, quando a gordura entra na corrente sanguínea e bloqueia um vaso sanguíneo. Nos pulmões, por exemplo, bloqueia a entrada de oxigénio na corrente sanguínea, enquanto no cérebro pode causar um AVC – ambos podem ser fatais.
O volume de gordura também é importante. A maioria dos cirurgiões considera 300ml – um pouco menos que uma lata de refrigerante – como sendo uma quantidade segura. Contudo, alguns cirurgiões mais experientes usam um volume muito maior de gordura que pode ser medido em litros.
Por que a taxa de mortalidade é tão alta?
Uma pesquisa de 692 cirurgiões de todo o mundo investigou a taxa de mortalidade entre os pacientes submetidos ao BBL. Ao longo de sua carreira, os cirurgiões relataram 32 casos de morte por embolia gorda e 103 casos não fatais, mas provavelmente há muitos mais que permanecem não relatados.
Embolia gorda foi recentemente identificada como a principal causa de morte em cirurgia estética. A taxa estimada de morte por embolia gorda pode chegar a um em cada 3.000 para BBLs. Um estudo de 2015 das mortes por cirurgia BBL concluiu que elas provavelmente ocorrem como resultado de vasos glúteos serem danificados durante o procedimento, permitindo que a gordura entre na corrente sanguínea. Os autores recomendaram que “a lipoinjeção dos glúteos deve ser feita com muito cuidado, evitando injeções em planos musculares profundos”.
Mortes nos EUA têm causado preocupação. Em um caso recentemente relatado nos EUA que levou à morte por embolia de gordura, os cirurgiões acreditavam que as injeções haviam sido feitas em gordura superficial, mas no pós-morte foi encontrada gordura no coração e nos pulmões. Havia também algumas evidências de danos nos vasos sanguíneos glúteos.
No entanto, deve-se notar que a gordura também é injetada no músculo para alguma cirurgia de aumento de mama, sem nenhuma morte relatada. Isto sugere que existem outros fatores envolvidos na alta taxa de mortalidade entre os pacientes BBL.
A maioria destas mortes parece ter sido causada por profissionais inadequadamente qualificados trabalhando em instalações não aprovadas, incluindo casas e garagens.
Outros problemas pós-cirúrgicos, como gangrena e sepse, também podem ser fatais.
Vale a pena o risco?
O risco potencial de morte por embolia de gordura tem de ser ponderado em relação aos benefícios, especialmente nos casos em que existem benefícios físicos e funcionais para a realização da cirurgia. No caso da plástica de bumbum brasileira, talvez os riscos sejam maiores do que os benefícios.
Não obstante, em uma sociedade obcecada por celebridades e beleza, o procedimento permanece popular, apesar dos riscos. Por isso, é importante que os cirurgiões tornem os riscos do procedimento muito claros para qualquer pessoa que o considere. A segurança dos pacientes deve ser sempre a prioridade máxima. E os cirurgiões precisam fazer mais para aumentar a segurança do procedimento e diminuir a taxa de mortalidade desnecessariamente alta.